sábado, 22 de dezembro de 2007

Caminhos e Escolhas

Não me recordo de qualquer outro texto dramático que tenha me emocionado tanto e, mesmo assim, não pensava em encená-lo por temer não tratar bem de assuntos tão delicados e complexos.
Marcos Barbosa, professor e pessoa de primeira grandeza, não me influenciou na escolha e muito menos na concepção e direção do espetáculo. Acontece que a visão que ele tem sobre o teatro como um encontro simples e saboroso entre atores e platéia, com uma encenação "feita a mão", casava-se harmonicamente com a minha fé nesse teatro, devido minha inesquecível experiência com o Grupo Feijoada Onírica em Assis, interior de São Paulo.
Tantas outras influências me são fundamentais na condução desse espetáculo: a infância e a adolescência transcorrendo sem pressa no interior desse país, quando pude conviver com comadres feito as personagens da peça, bem ali na cozinha de casa, nas conversas de minha mãe com a tia Ernesta e a vó Maria. A música das vozes de Alzira, Noélia, Moacir e Antero na intimidade absoluta que vivenciam no consolo mútuo do seguir vivendo "a vida que Deus nos deu", aparece magistralmente no texto e no palco, com a fina cumplicidade e o generoso talento que esse elenco nos presenteia.
Aprecio a audácia de Moacir ao abandonar a casa e a proteção de seus pais para o risco vertiginoso de buscar-se a si mesmo, através das estradas absolutamente desconhecidas que temos de percorrer sozinhos, porém livres. Imagino que ao final do segundo ato, em seu silêncio antes da decisão, Moacir recorda o momento que tomou coragem e partiu em busca de algo, recorda os quase vinte anos que viveu com outro nome em tantas casas e em tantas histórias, tenta recordar o motivo que o trouxe de volta até aquela mesma sala, e descobre que o caminho que escolheu é cruel, sedutor, solitário, e sem volta.